plural

PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Ataque ao alvo errado
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Há algum tempo, sobretudo nos anos mais recentes que a polarização política ficou mais acirrada, tem-se confundido alinhamento ideológico com caráter. Ataques à índole da pessoa em função de qual grupo político está mais próximo tem sido uma constante. Esta forma de embate, que tem se tornado o "novo normal" na política, é extremamente nociva para a prática democrática, pois demonstra falta de compreensão política e impede a produção de diálogos.

O QUE É IDEOLOGIA POLÍTICA?

Ideologia, segundo Karl Mannheim (1893-1947), representa o conjunto de elementos cognitivos que dão sentido à realidade de um indivíduo. Portanto, todo indivíduo, goste ou não, possui alguma ideologia pois apresenta um conjunto de crenças que dão sentido a sua vida. A ideologia política, por sua vez, representa a forma pela qual os diferentes grupos encaram o universo político e as dimensões coletivas da sociedade. Quando se fala em direita e esquerda, neste sentido, estamos dizendo sobre a forma pela qual os indivíduos que pertencem a cada um destes espectros políticos orientam seu pensamento sobre a política. Sobre esta diferença, Norberto Bobbio (1909-2004) apresenta uma definição de direita e esquerda bastante didática. Para o autor, a esquerda quando pensa o universo político parte do universo coletivo para chegar nas implicações individuais, e o polo da direita, faz o sentido inverso, partindo do individual para chegar no coletivo. Como podemos ver, são visões antagônicas que estão alinhadas à forma pela qual os indivíduos encaram o mundo. O fato de um indivíduo pertencer à direita ou à esquerda está, via de regra, associado à trajetória daquela pessoa em sentido amplo, como a família em que foi criada, amizades, o que estudou, etc. A ideologia política não é só uma escolha, ela está relacionada, em certo sentido, à cultura daquele indivíduo.

CONFUSÕES NEFASTAS

O que assistimos hoje é uma confusão completa sobre política. Em primeiro lugar, muitas pessoas atacam o polo ideológico oposto como se o caráter daquela pessoa fosse duvidoso. Nada mais equivocado. O caráter está relacionado à forma como os indivíduos lidam uns com os outros, e não a qual ideologia política aderiu. Portanto, analisando qualquer espectro político, poderemos ver indivíduos que podem ser moralmente condenáveis como pessoas de ótima índole. Este é um dos grandes motivos de que quando se fala em política, não se analisa o caráter das pessoas, mas suas ideias.

Sobre reitores, gatos e ratos
Rogério Koff
Professor universitário

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Pretendia dar sequência ao debate da semana passada entre liberais e conservadores, mas fui atropelado pelos fatos. O primeiro trata da nomeação de reitores nas universidades federais. O segundo se refere à cultura do cancelamento. O Supremo Tribunal Federal, discutindo recurso impetrado pela OAB, decidiu que o presidente Bolsonaro não é obrigado a nomear o candidato mais votado para reitor nas listas tríplices apresentadas pelas instituições de ensino superior. Decidiu por uma obviedade que já estava na lei. Gastam dinheiro do contribuinte para discussões inúteis. O presidente recebe uma lista tríplice e escolhe quem ele entender que é o mais adequado. Por que o STF perdeu tempo para discutir a própria lei?

Algumas áreas das universidades públicas deixaram de ser transmissoras de um conhecimento plural para se transformarem em instâncias de radicalização ideológica. Há relatos de professores que não se enquadram em ideologias esquerdistas e que têm as notas que atribuem a determinados alunos alteradas por comitês montados às pressas. Em resumo, o professor dá uma nota e são constituídas bancas para alterar a nota que o professor deu ao aluno. Um detalhe: o professor sequer é consultado sobre quais foram seus critérios de avaliação. O aluno poderia ter nota baixa por atrasar a entrega do trabalho, por exemplo. E há casos em que as tais comissões avaliam um trabalho diferente daquele que originalmente o aluno havia entregue ao professor. Nada disso importa para os comitês de exceção. A intenção é desmoralizar o professor.

Também ouvi falar sobre professores que reprovam alunos que não frequentam aulas. Estes mestres acabam vítimas de falsas acusações de racismo e fascismo. Uma inversão de valores: o aluno teria sido reprovado por racismo e não por seu desleixo. Tudo ocorre com a complacência ou o silêncio de certos colegas professores. Estes relatos parecem bastante verossímeis. Eis o admirável mundo novo das instituições de ensino superior, que se transformaram em locais insalubres para pensadores independentes.

TOM & JERRY

Para completar, o antigo seriado infantil Tom & Jerry acabou banido da grade de programação da TV por assinatura por supostamente expor crianças à violência excessiva. Nenhum problema com a promiscuidade de programas como BBB. A sacanagem está liberada. Tudo isso faz lembrar do profético livro "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury, que mostra um futuro no qual livros contrários ao sistema vigente são queimados. Filmes de Woody Allen já são boicotados por denúncias falsas de sua ex-mulher. Leiam sua recente autobiografia e entenderão. Em breve, Bergman, Visconti e Kubrick serão cancelados também. Livros clássicos serão proibidos. Até os Beatles sofrerão um massacre porque as letras de suas músicas serão consideradas "machistas". Esperem e esse tempo chegará.

Quanto ao seriado Tom & Jerry, os ratos da esquerda não abandonarão o navio até roerem o último pedaço do casco da outrora nobre cultura ocidental. É o futuro que se aproxima. 


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